Na sequência da visualização da brilhante reportagem “Cicatriz” realizada por Conceição Queiroz, senti a necessidade de falar sobre o tema “Mutilação Genital Feminina”.
A Mutilação Genital Feminina consiste na amputação do clítoris da mulher de modo a que esta não possa sentir prazer durante o acto sexual. Estima-se que este costume bárbaro se realize em cerca de 29 países do continente africano e em 3 do Médio Oriente. Porém, esta acção alargou-se também aos chamados países civilizados da Europa, onde é feita no seio das pequenas comunidades emigrantes procedentes dos locais já referenciados.
A Mutilação Genital Feminina é um costume sociocultural que provoca danos físicos e psicológicos irreversíveis, e ainda, é responsável pela morte de milhares de raparigas.
Pode variar de brandamente aflitiva a aterradora, e pode envolver a remoção com ferramentas de corte inapropriados, não esterilizados e sem anestesia. A sua prática está murada de silêncios e é vivida em segredo. Manifestar-se contra esse costume é difícil e, por vezes, arriscado para mulheres ou homens que contestam. Em muitos casos, são acusados de estarem contra as tradições ancestrais, dos valores familiares, tribais e até de rejeitar o seu próprio povo e sua identidade cultural.
Nos países onde é praticada, a mutilação é considerada um pré-requisito para as jovens contraírem matrimónio. Os homens recusam-se a casar com uma mulher não-excisada, esta chega a ser considerada como não sendo pura. As mulheres vítimas da excisão têm o seu desejo sexual diminuído, daí que reduza também a promiscuidade sexual. A mutilação é, assim, uma segurança quanto à fidelidade da mulher e quanto à castidade da noiva.
A mutilação é um costume sustentado em falsos conceitos, existe a crença de que os órgãos genitais femininos são 'impuros’ ou ‘sujos’ pelo que, só através da excisão ficam purificados. Fundamenta-se também no pensamento de que só o homem tem o direito de desfrutar do prazer sexual.
Em 2009, o realizador Sherry Horman, teve a brilhante ideia de reproduzir para as telas do cinema o filme “Flor do Deserto”. A denúncia da mutilação genital das mulheres somalis é o magnificente objectivo desta obra. Através da sua biografia, a modelo africana Waris Dirie, perfura as fronteiras da Somália e apresenta ao mundo o lado grotesco da sua cultura. Waris conta que foi mutilada aos cinco anos de idade, numa espécie de rito de passagem. O relato mostra a impiedade e o preconceito aos quais são sujeitas as meninas somalis. A modelo narra a sua saga pelo deserto da Somália, fugindo do autoritarismo do pai, cuja mentalidade cultural, consente não só a mutilação, como a escolha do marido para a filha. Waris foge a pé, ainda a sangrar para Mogadíscio enfrentando animais selvagens e areias escaldantes por 500Kms. Todo este sofrimento de Waris é “recompensado” em parte, fora do seu país e longe das exigências da sua cultura. Torna-se numa conhecida modelo internacional, o que lhe possibilita denunciar ao mundo a incivilidade a que são sujeitas as mulheres somalis.
De seguida, deixo o link onde podem ver a reportagem: http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/reporter-tvi-cicatriz-mutilacao-genital-feminina-conceicao-queiroz/1239328-4071.html